Pode parecer exagero meu, mas eu sempre tenho a curiosidade de verificar, quando vou ao supermercado, se a “embalagem econômica” de um produto é mesmo econômica como está anunciado. Frequentemente isso é uma propaganda enganosa. Acontece bastante de duas embalagens de 400 gramas de um achocolatado custar menos do que uma embalagem de 800 gramas que, ainda por cima, vem num pacote plástico.
Mas nem sempre a conta é tão fácil, e é bom ter uma
calculadora à mão. Antes de andarmos todos com smartphones cheios de
aplicativos e câmeras, era preciso fazer as contas de cabeça. A tecnologia veio
tornar tudo mais fácil, mesmo que estimule a preguiça.
Como se não bastasse, os próprios supermercados agora já
fazem a conta para nós. Se você compra um tubo de pasta de dentes de 120
gramas, claro que ele custa mais que um de 90 gramas, mas será que compensa
mesmo pegar a embalagem maior? Pois as etiquetas dos preços nas gôndolas das
grandes redes já trazem a informação que permite comparar preços de produtos em
quantidades diferentes.
Normalmente esse preço é calculado por quilo, por litro ou
alguma outra unidade padronizada. Então fica fácil saber se é mais econômico
comprar o garrafão de 5 litros de amaciante ou o de 2 litros, porque nas duas
etiquetas estará a informação do preço por litro. O supermercado já faz a conta
de divisão para você. Ele dividem o preço da embalagem de 5 litros por cinco e
o preço da embalagem de 2 litros por dois. Assim você fica sabendo qual é mais
vantajoso.
Mesmo assim, ainda não há alguém para supervisionar se os
preços das embalagens econômicas realmente compensam. Seria de se esperar que
um pacote de 5 quilos de sabão em pó custasse, por quilo, menos que uma
embalagem de 800 gramas. Mesmo incoerente, a embalagem econômica pode não
trazer tanta economia.
Outro dia, quando fui ao mercado, descobri que o problema é
ainda pior do que isso. Quem calcula o preço por quilo dos produtos, pelo
jeito, ou não tem o conhecimento mínimo necessário para fazer a conta, ou é
desatento.
Vejam essas duas etiquetas que encontrei no mesmo
supermercado. São de pacotes com seis sabonetes. Para calcular o
preço por quilo do pacote devemos fazer a seguinte conta. Cada sabonete pesa
85 gramas. Se são seis unidades no pacote, devemos multiplicar isso por seis, o
que resulta em 510 gramas cada pacote. Para converter isso para quilogramas, é
só dividir por 1000. Então, o peso daquele conjuntinho de seis sabonetes é 0,51
kg. Para calcular o preço por quilo, é só dividir o preço na etiqueta por 0,51.
Então como pode o preço por quilo de um pacote ser R$ 15,67
e o do outro ser R$ 140,00? O que será que há de tão valioso naquele sabonete?
Ouro? Algum cosmético mágico? É feito com água legítima da fonte da juventude?
Se quisermos fazer rapidamente uma continha de cabeça, 510 gramas é praticamente meio quilo, então o preço do quilo deveria ser mais ou menos o dobro do preço do pacote. Só que o dobro de R$ 11,90 não é R$ 140,00. Deveria ser algo em torno de R$ 23,80.
Conclusão. Houve um erro de raciocínio da pessoa que inseriu os
dados no sistema. Em lugar de considerar as seis unidade da embalagem, ele fez
as contas como se o preço se referisse a apenas um sabonete de 85 gramas.
Transformando esse peso em quilogramas (dividindo-o por 1000), temos 0,085
quilos. Então, se dividirmos o preço de R$ 11,90 por 0,085 quilos, resulta
exatamente em R$ 140,00 por quilo. Mas como há seis sabonetes no pacote, esse
valor está inflacionado. O preço verdadeiro do quilo de sabonete é um sexto disso,
ou seja, R$ 23,33 (bem perto daquela continha que fizemos de cabeça ali em cima).
O conhecimento é sempre a melhor arma que temos para não
sermos enganados. Não acredito que houve má fé do mercado ao colocar esses
preços. Acho que foi apenas engano. Mas o engano do funcionário engana o
consumidor, por isso devemos tomar cuidado. No entanto, já não sei se posso
considerar engano uma “embalagem econômica” custar mais caro que a embalagem
normal. Isso, sim, parece má fé.
Fique de olho.