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27 de fevereiro de 2018

Aeronave com asas dobráveis. Devemos ter medo?


Recentemente eu procurava por um vídeo específico no YouTube quando me deparei com uma demonstração do ensaio da articulação da ponta da asa do novo Boeing 777X. O vídeo, em si, não é nada demais. Mostra apenas um equipamento dobrando uma estrutura articulada e retornando à posição original. Mas os comentários me chamaram bastante a atenção, porque nele pude perceber o quanto as pessoas comentam e criticam aquilo que desconhecem sem nem se darem o trabalho de pesquisar um pouco.



O link para o vídeo é este aqui:


O Boeing 777X terá a ponta das asas dobráveis. Muitos de vocês já deve ter visto que alguns aviões têm uma espécie de barbatana nas pontas das asas. Essa barbatana é conhecida por winglet e tem a função de gerar economia de combustível durante o pouso e a decolagem. Isso porque nessas etapas a velocidade de voo é mais baixa e há a formação de um vórtice (redemoinho) nas pontas das asas causando um arrasto (atrito) e consequente aumento no consumo de combustível. Em velocidades mais altas esse vórtice também se forma, mas o arrasto gerado é muito menor.

Há algumas fotos que mostram esse vórtice se formando quando o avião passa perto de nuvens ou fumaça.



Voltando ao assunto do site, o que eu estava procurando era um vídeo onde o engenheiro chefe do projeto 777X explica por que as pontas das asas serão dobráveis. Em resumo, as pontas das asas virarão winglets durante os pousos e decolagens e se esticarão virando asas normais durante o cruzeiro, quando o winglet não é mais necessário.

No entanto, aquele vídeo do link acima mostra apenas o ensaio desses winglets articulados. Mas os comentários mostram que as pessoas que assistiram ao vídeo são completamente leigas e fazem perguntas nada pertinentes. Melhor do que falar deles, é mostrá-los.


O primeiro comentário ao vídeo é alguém perguntando “Por favor, explique pra que isso?”. Vejam as respostas que outros internautas deram a essa pergunta.


Esta pessoa quase acerta. Diz que é uma ponta de asa dobrada pelas razões usuais (ele não usa termos técnicos), mas acrescenta que o avião será muito grande para os aeroportos, então, ao invés de alterar a estrutura aeroportuária, é mais fácil fazer com que a asa dobre 12 pés em cada ponta.

Sim. O 777X terá uma envergadura bastante grande, mas não é por isso que as pontas das asas dobram. Afinal, quando fizeram o A380 os aeroportos tiveram que se virar para se adequar a um avião gigante de dois andares. Aliás, a envergadura da asa do A380 é de 80 metros, enquanto a do 777X será de 72 metros. Logo, se o aeroporto pode receber um A380, estará plenamente capacitado a receber um 777X.


Mais um que diz que é para economizar espaço e ainda acrescenta que desde a segunda guerra que já existem aeronaves com asas dobráveis. Acontece que aquelas aeronaves eram usadas em porta-aviões, onde o espaço precisava ser otimizado ao extremo, e as asas, uma vez esticadas, eram fixadas com pinos que as mantinham rígidas exatamente como uma asa que não se dobra. Da decolagem até o pouso a asa não mudava de configuração, isto é, elas não se dobravam em voo. No caso do 777X, ele decolará com a ponta dobrada e a esticará em cruzeiro, voltando a dobrá-la para o pouso.


Agora vejamos estes comentários a seguir.


“Não gosto disso… Mais uma parte móvel para nos preocupar.”

Talvez a preocupação seja porque essa pessoa pensa que a asa se dobrará ao meio. Considerando que o winglet tem apenas a função de reduzir o vórtice formado na ponta da asa e que em nada contribui para a sustentação, esse temor não tem razão de ser.


“Imaginei que uma parte maior da asa fosse se dobrar.”

Provavelmente porque ele está pensando que a função dessa articulação é economizar espaço.


“Eu gostaria da ideia já que economizaria espaço e tudo o mais, mas não me sentiria exatamente tão seguro quanto numa aeronave de asas estáticas.”

O passageiro dessa aeronave pode se sentir tão seguro quanto numa aeronave com winglet imóvel.


“Uau. Não é grande coisa.”

Se você pensar que isso é para economizar espaço no aeroporto, não é mesmo!


“Há alguma razão para a Airbus não fazer o mesmo com o A380? Assim eles poderiam ter as maiores asas que um avião precisa para ter consumo eficiente e ainda poder atracar nos aeroportos… ou perdi alguma coisa?”

Não. A Airbus poderia usar o mesmo recurso. Apenas a Boeing pensou nisso primeiro, ou conseguiu tornar tecnicamente viável antes da Airbus. Se considerarmos que o mecanismo para mover essa peça pode gerar um aumento de peso na aeronave, então é preciso verificar se a economia de combustível compensa.


“Essa caixa amarela na ponta da asa vai parecer esquisita ao lado do avião.”

Acho que este estava de gozação. Isso é um laboratório de ensaios. Não terá essas cores na aeronave pronta!


A propósito, o vídeo que eu estava procurando é este aqui:


Nele, é explicado e mostrado que apenas a ponta da asa se dobrará, e que a finalidade é aumentar a eficiência de consumo de combustível. Não tem nada a ver com espaço em aeroportos. Diminuir o arrasto em qualquer etapa do voo é sempre um objetivo a ser alcançado nos projetos de aeronaves.