Recentemente
eu procurava por um vídeo específico no YouTube quando me deparei com uma
demonstração do ensaio da articulação da ponta da asa do novo Boeing 777X. O vídeo,
em si, não é nada demais. Mostra apenas um equipamento dobrando uma estrutura
articulada e retornando à posição original. Mas os comentários me chamaram
bastante a atenção, porque nele pude perceber o quanto as pessoas comentam e
criticam aquilo que desconhecem sem nem se darem o trabalho de pesquisar um
pouco.
O link para o
vídeo é este aqui:
O Boeing 777X
terá a ponta das asas dobráveis. Muitos de vocês já deve ter visto que alguns
aviões têm uma espécie de barbatana nas pontas das asas. Essa barbatana é
conhecida por winglet e tem a função de gerar economia de combustível durante o
pouso e a decolagem. Isso porque nessas etapas a velocidade de voo é mais baixa
e há a formação de um vórtice (redemoinho) nas pontas das asas causando um
arrasto (atrito) e consequente aumento no consumo de combustível. Em
velocidades mais altas esse vórtice também se forma, mas o arrasto gerado é
muito menor.
Há algumas
fotos que mostram esse vórtice se formando quando o avião passa perto de nuvens
ou fumaça.
Voltando ao assunto
do site, o que eu estava procurando era um vídeo onde o engenheiro chefe do
projeto 777X explica por que as pontas das asas serão dobráveis. Em resumo, as
pontas das asas virarão winglets durante os pousos e decolagens e se esticarão
virando asas normais durante o cruzeiro, quando o winglet não é mais
necessário.
No entanto,
aquele vídeo do link acima mostra apenas o ensaio desses winglets articulados.
Mas os comentários mostram que as pessoas que assistiram ao vídeo são
completamente leigas e fazem perguntas nada pertinentes. Melhor do que falar
deles, é mostrá-los.
O primeiro
comentário ao vídeo é alguém perguntando “Por favor, explique pra que isso?”. Vejam
as respostas que outros internautas deram a essa pergunta.
Esta pessoa
quase acerta. Diz que é uma ponta de asa dobrada pelas razões usuais (ele não
usa termos técnicos), mas acrescenta que o avião será muito grande para os
aeroportos, então, ao invés de alterar a estrutura aeroportuária, é mais fácil
fazer com que a asa dobre 12 pés em cada ponta.
Sim. O 777X
terá uma envergadura bastante grande, mas não é por isso que as pontas das asas
dobram. Afinal, quando fizeram o A380 os aeroportos tiveram que se virar para
se adequar a um avião gigante de dois andares. Aliás, a envergadura da asa do
A380 é de 80 metros, enquanto a do 777X será de 72 metros. Logo, se o aeroporto
pode receber um A380, estará plenamente capacitado a receber um 777X.
Mais um que diz
que é para economizar espaço e ainda acrescenta que desde a segunda guerra que
já existem aeronaves com asas dobráveis. Acontece que aquelas aeronaves eram
usadas em porta-aviões, onde o espaço precisava ser otimizado ao extremo, e as
asas, uma vez esticadas, eram fixadas com pinos que as mantinham rígidas
exatamente como uma asa que não se dobra. Da decolagem até o pouso a asa não
mudava de configuração, isto é, elas não se dobravam em voo. No caso do 777X,
ele decolará com a ponta dobrada e a esticará em cruzeiro, voltando a dobrá-la
para o pouso.
Agora vejamos
estes comentários a seguir.
“Não gosto
disso… Mais uma parte móvel para nos preocupar.”
Talvez a
preocupação seja porque essa pessoa pensa que a asa se dobrará ao meio.
Considerando que o winglet tem apenas a função de reduzir o vórtice formado na
ponta da asa e que em nada contribui para a sustentação, esse temor não tem
razão de ser.
“Imaginei que
uma parte maior da asa fosse se dobrar.”
Provavelmente
porque ele está pensando que a função dessa articulação é economizar espaço.
“Eu gostaria
da ideia já que economizaria espaço e tudo o mais, mas não me sentiria
exatamente tão seguro quanto numa aeronave de asas estáticas.”
O passageiro
dessa aeronave pode se sentir tão seguro quanto numa aeronave com winglet
imóvel.
“Uau. Não é
grande coisa.”
Se você
pensar que isso é para economizar espaço no aeroporto, não é mesmo!
“Há alguma
razão para a Airbus não fazer o mesmo com o A380? Assim eles poderiam ter as
maiores asas que um avião precisa para ter consumo eficiente e ainda poder
atracar nos aeroportos… ou perdi alguma coisa?”
Não. A Airbus
poderia usar o mesmo recurso. Apenas a Boeing pensou nisso primeiro, ou
conseguiu tornar tecnicamente viável antes da Airbus. Se considerarmos que o
mecanismo para mover essa peça pode gerar um aumento de peso na aeronave, então
é preciso verificar se a economia de combustível compensa.
“Essa caixa
amarela na ponta da asa vai parecer esquisita ao lado do avião.”
Acho que este
estava de gozação. Isso é um laboratório de ensaios. Não terá essas cores na
aeronave pronta!
A propósito,
o vídeo que eu estava procurando é este aqui:
Nele, é
explicado e mostrado que apenas a ponta da asa se dobrará, e que a finalidade é
aumentar a eficiência de consumo de combustível. Não tem nada a ver com espaço
em aeroportos. Diminuir o arrasto em qualquer etapa do voo é sempre um objetivo
a ser alcançado nos projetos de aeronaves.