11 de abril de 2017

Americano ou Estadunidense?


Tenho visto com muita frequência o uso da expressão “estadunidense” para se referir a quem é natural dos Estados Unidos da América (ou apenas Estados Unidos). E discordo veementemente dessa moda que se alastra.

Ora, vejamos. O país se chama Estados Unidos da América (United States of America). Ele nasceu da união de treze estados confederados, formando uma confederação que recebeu essa denominação. O termo “Estados Unidos” é uma expressão que indica o tipo de formação política do país, mas não é o seu nome. O nome do país, de forma abreviada, é América. Da mesma forma que o nome completo de nosso país, a que chamamos carinhosamente de Brasil, é República Federativa do Brasil.

Ainda assim, quem aqui nasce é chamado “brasileiro”, e não “republicafederativense” (ou algo do tipo). Vejamos outros exemplos. Quem nasce na República Popular da China é chinês, não “republicapopularense”. Quem nasce na República Federal da Alemanha não é “republicafederalense”, mas alemão. Então por que chamar quem nasce nos Estados Unidos da América de “estadunidense” ao invés de, simplesmente, americano?

Alguns dirão que americano é quem nasce no continente América. De fato. O continente se chama América. Aliás, são três continentes. Quem nasce na América do Sul é sul-americano, quem nasce na América Central é centro-americano e quem nasce na América do Norte é norte-americano. As pessoas que defendem esse posicionamento acreditam que falar dos americanos é falar dos norte-americanos. Porém a América do Norte compreende três países: Canadá, América e México. Nela também se encontram quatro territórios: as Bermudas (do Reino Unido – que, aliás, se chama Reino Unido da Inglaterra e da Irlanda do Norte), a Groenlândia (da Dinamarca), a Ilha de Clipperton (da França) e Saint Pierre et Miquelon (também da França).

Seria um problema, então, chamar americano quem nasce nos Estados Unidos da América? Isso criaria tamanha confusão que você poderia pensar que um americano poderia ser alguém natural de Groenlândia? Claro que não. Aliás, o próprio povo americano se refere a seu país como América (assim como nós chamamos o nosso de Brasil). Aceitem: esse é o nome do país. Se podemos aceitar que há dois lugares chamados São Paulo, um estado e uma cidade, e da mesma forma há dois Rios de Janeiro, por que não aceitar que há uma país chamado América que fica dentro do continente Americano.

Mas como saberemos, então, de onde é a pessoa quando o chamamos de americano? Ora, normalmente nós identificamos a origem da pessoa pelo país, e não pelo continente. Se a pessoa nasce no México, não o chamamos de norte-americano nem de americano. Chamamos de mexicano. Se nasce no Peru, não dizemos que é americano, sul-americano ou latino-americano. Dizemos que é peruano.

Enfim, essa mania de chamar os americanos de “estadunidenses” é, para mim, um preconceito xenofóbico que tenta descaracterizar a legitimidade de tudo que vem daquele país. Há tanta gente que fala mal dos americanos sem sequer conhecer o país. E não me refiro apenas aos parques de diversão fantásticos e aos paraísos das compras. É um povo trabalhador, com uma rica cultura, que mora num território imenso de ricas belezas naturais. Não desmereço com isso nada do que temos de bom aqui no Brasil, mas reconheço que a América é, também, um lugar belo e rico, tanto geográfica como culturalmente.

Portanto, quem nasce na América – nos Estados Unidos da América – é americano. Não tente distorcer essa verdade e mudar o que o mundo inteiro reconhece e tentar fazer parecer que só os brasileiros estão certos ao chama-los por um termo que ninguém no mundo usa: estadunidense. Isso não existe. É invenção.

Enfim, só por curiosidade, o nosso próprio país já se chamou um dia Estados Unidos do Brasil. E nem por isso quem nasceu aqui naquela época deixou de ser brasileiro.

Um comentário:

  1. Apenas para enriquecer o tópico.
    http://veja.abril.com.br/blog/sobre-palavras/americano-norte-americano-ou-estadunidense/

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